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08/03/2021 às 16h06 - atualizada em 08/03/2021 às 17h44

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Quando sair para ajudar alguém, deixe a câmera do celular desligada
Tem uma frase bonita que diz assim: Dar com a mão direita sem que a esquerda perceba.
Quando sair para ajudar alguém, deixe a câmera do celular desligada
Bairro da Vila União, depois do temporal do último domingo (7). Foto: Ricardo Rodrigues/Tribuna Notícia
Por Ricardo Rodrigues | Tribuna Notícia

Eu acho massa essa ideia de grupos solidários. Pessoas generosas que, no meio do caos, saem da sua zona de conforto, fazem um esforço e se tornam gotas positivas nesse oceano tão duro e difícil que pode ser a vida para algumas camadas da sociedade. Ir até onde o poder público não alcança. Acolher quem ainda está vulnerável e distante das políticas públicas. Compartilhar afeto. Carinho. Levar, pelo menos por alguns dias, a tranquilidade de uma cesta básica para quem não tinha nada para comer.
Nessa pandemia vi vários grupos surgindo e outros se fortalecendo. Enquanto muitos ficaram em casa, outros foram para as ruas. Distribuíram sopa, fizeram movimentos dentro de condomínios, bairros e lives para amenizar o impacto das restrições e quarentena.

Por falar nisso, essa semana escutei de uma professora de Manaus sobre a pandemia: Não estamos no mesmo barco. Estamos em barcos diferentes enfrentando a mesma tempestade. Tem gente passando por essa pandemia em lanchas, iates, cruzeiros. Outros em veleiros. Outros em jangadas. Canoas. E tem gente só com o bote salva vidas e a própria sorte.

Eu não vou querer debater aqui se é certo ou errado a midiatização da solidariedade. É bom compartilhar boas ações. É bom compartilhar generosidade e contagiar outras pessoas para que façam o mesmo. O que me incomoda, de verdade, é o excesso.

A enchente da Vila União ocorrida neste último domingo (7), viralizou e com isso potencializou gestos midiáticos em torno da dificuldade alheia. Fora que a vaidade, em alguns casos, transpassa a tela do celular. Fotos e vídeos no Instagram com mãos entregando o pão. Curtidas e comentários. Textos na legenda com pensamentos em primeira pessoa gritando ao mundo: olha, eu sou legal. Penso nos pobres.


Mas e aí, na real, no dia a dia quando a câmera desliga e celular volta para o bolso? Quando a conexão cai e a live deixa de ser transmitida? Será que no dia seguinte o nome da pessoa que recebeu a cesta básica é lembrado?

O que quero deixar claro é que, sua generosidade pode ser expandida sim. Você pode, com certeza, contagiar outras pessoas, espalhando e compartilhando gestos solidários. Mas a pobreza, a desigualdade e a calamidade do outro não podem  virar um espetáculo que alimenta o ego e a vaidade de quem tem garantido  um prato de comida todos os dias na mesa.

Tem uma frase bonita que diz assim: "dar com a mão direita  sem que a esquerda perceba". Talvez seja por aí. Mobilize, busque, movimente pessoas em torno de um objetivo comum. Seja uma gota neste oceano tão imenso e tão repleto de desigualdade. Mas se por um acaso perceber que a fome é do seu ego, respire fundo, e desligue a câmera do seu celular. Quando você se conecta com a situação real, você entende que o mundo precisa muito mais do que likes de uma foto sua doando uma cesta, roupas ou produtos de limpeza.

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