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05/05/2021 às 11h47 - atualizada em 05/05/2021 às 13h16

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CPI da Covid: Bolsonaro foi alertado das consequências de não ouvir a ciência, diz Mandetta
Ex-ministro disse que minuta de decreto previa alterar bula da cloroquina; comportamento de Bolsonaro causou 'impacto' no agravamento da pandemia; e que alertas foram ignorados.
CPI da Covid: Bolsonaro foi alertado das consequências de não ouvir a ciência, diz Mandetta
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Luiz Henrique Mandetta, primeiro ministro da Saúde no governo de Jair Bolsonaro a enfrentar a pandemia do novo coronavírus, afirmou nesta terça-feira (4) que não havia interesse por parte do governo federal de fazer uma campanha oficial de orientação sobre a doença.

Durante 7 horas, o ex-ministro abordou temas como a importância da ciência e das vacinas no combate à Covid-19 e disse que o comportamento do presidente Jair Bolsonaro causou "impacto" no agravamento da pandemia. Durante o depoimento, Mandetta revelou bastidores sobre a cloroquina e explicou divergências com o presidente Bolsonaro.

Destaques do depoimento:

O governo federal não quis fazer campanha nacional contra a Covid.

"Aquelas entrevistas [diárias] só existiam porque não havia o normal quando se tem uma doença infecciosa: você ter uma campanha institucional, como foi [feito], por exemplo, com a Aids – havia uma campanha em que se falava como pega e orientava as pessoas a usarem preservativos", disse Mandetta, em depoimento na CPI da Pandemia.

Além disso, o ex-ministro afirmou que foram feitos pedidos para que os comunicados emitidos pela pasta incluíssem, também, dados positivos como o número de curados e não apenas os números de casos e mortes.

Alteração da bula da cloroquina

Segundo o ex-ministro, uma minuta de decreto presidencial propôs que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alterasse a bula da cloroquina para que o medicamento fosse indicado no tratamento da Covid-19.

“Eu estive dentro do Palácio do Planalto quando fui informado, após uma reunião, que era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião com vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina, que eu nunca tinha conhecido. Quer dizer, ele tinha esse assessoramento paralelo", disse Mandetta.

"Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não timbrado de um decreto presidencial para que fosse sugerido daquela reunião que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação da cloroquina para coronavírus. E foi inclusive o próprio presidente da Anvisa, [Antonio] Barra Torres, que disse não."

Bolsonaro foi alertado sobre a gravidade da pandemia

Mandetta também afirmou que Bolsonaro foi alertado das consequências de não ouvir a ciência, inclusive com a projeção de alto número de mortes caso as medidas indicadas pela OMS não fossem seguidas.

"Todas as recomendações, as fiz. Em público, nos boletins, nos conselhos de ministros, diretamente ao presidente, a todos os secretários de Saúde", afirmou Mandetta. "Nunca tive discussão áspera, mas sempre coloquei (as recomendações) de maneira muito clara."

Paulo Guedes

Mandetta fez duras críticas ao ministro da Economia, Paulo Guedes."O distanciamento da equipe econômica era geral. Não posso negar. Eu dialogava um pouco com o segundo escalão em algumas questões. Mas entre ministros, telefonemas, recados (que deixei) para conversar com o ministro, não eram respondidos", disse Mandetta.
"Um desonesto intelectualmente, uma coisa pequena, um homem pequeno para estar onde está", falou ainda sobre o ministro da Economia.

Influência dos filhos do presidente

O ex-ministro também falou sobre à influência sobre a tomada de decisões do presidente Bolsonaro na condução das ações do governo para o combate à pandemia. Mandetta foi categórico ao afirmar que o presidente foi "aconselhado" pelos filhos.

Relação com Bolsonaro

Questionado sobre sua relação com o presidente, Mandetta explicou que o distanciamento entre os dois começou devido às "más notícias" levadas pelo ex-ministro sobre os cenários futuros do Brasil em meio a pandemia. Ele afirmou que se sentia no dever de dar "alertas sistemáticos, inclusive com projeções", como o número de mortes, para que Bolsonaro soubesse como o país iria atravessar a crise.


FONTE: Com informações, G1

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